Uma semana após atropelamento de criança de 11 anos, passageiros relatam insegurança nos Terminais Integrados

Superlotação, poucos veículos, desorganização, falta de segurança e imprudência. Esses são alguns dos problemas apontados cuidadora Cristiane Alves, de 49 anos, e de tantas outras milhares de pessoas que passam pelos Terminais Integrados da Região Metropolitana do Recife. Só no TI Camaragibe, por exemplo, são cerca de 40 mil. Uma delas era Gabriel Matheus, de 11 anos, que na última semana foi atropelado e morto por um BRT da linha Camaragibe/Derby nas dependências do terminal, enquanto fazia o trajeto até a Escola Estadual Francisco de Paula Correia de Araújo, a 1km do TI Camaragibe. Não conseguiu completar a viagem.

A morte de Gabriel acende um alerta sobre a segurança de quem utiliza os terminais integrados da Região Metropolitana. Segundo a recepcionista Mickaelly Daiane, que faz uso do TI Camaragibe para ir ao trabalho, os problemas enfrentados são sempre os mesmos. 

"Antigamente ficava o pessoal do apoio instruindo o pessoal, tanto pra subir no ônibus quanto em alguma informação que precisasse. Hoje em dia a gente não vê mais isso. Tem motorista que, mesmo uma boa quantidade de gente passando, eles ficam businando. Se você não parar ou voltar, é capaz de bater", afirmou.

Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Recife e RMR, Aldo Lima, o motorista envolvido no acidente relatou não ter visto a criança no momento do atropelamento. Aldo ainda fala sobre as dificuldades encontradas pela categoria no cotidiano da profissão nos terminais.

"A gente recebe dos motoristas que trabalham nos TI's, desde o problema de estruturação dos refeitorios para alimentação, para repouso, até o fluxo gigante de pessoas.  Infelizmente, essas integrações foram projetadas para abarrotar pessoas. Isso não é exclusivo de Camaragibe, todas as integrações são assim. Essa é a realidade do transporte público", comenta.

Sobre os terminais 

Os terminais integrados foram projetados no Recife, na década de 1980, com o objetivo de oferecer conforto e proteção do sol e da chuva aos passageiros que transitam pela Região Metropolitana do Recife. Com o passar dos anos, além da integração física, também passou a ser feita a integração tecnológica, com adesão ao Vale Eletrônico Metropolitano (VEM), que identifica os pontos de embarque e rotas cobrando uma única passagem no intervalo de 2h.

Para o engenheiro Stênio Cuentro, os terminais integrados são uma boa solução para mobilidade na Região Metropolitana, mas deixam muito a desejar, tanto do ponto de vista físico quanto de segurança.

"Submete o passageiro à risco. O passageiro tem que andar, circular no meio dos ônibus porque o terminal não é completamente fechado e corre o risco de atropelamento, como aconteceu recentemente. Do ponto de vista do projeto de construção, localização e engenharia de tráfego, ele (o terminal) está muito certo. Ele é construído na intersecção entre uma perimetral com uma radial. Mas do ponto de vista da segurança do passageiro, precisa sim ser freito um bom investimento", conclui.

O que diz a Nova Mobi Brasil

A Nova Mobi Pernambuco, responsável por 26 terminais na RMR afirmou que se solidariza com os familiares do estudante vítima do trágico acidente ocorrido na entrada do Terminal Integrado de Camaragibe, e na ocasião, prestou toda assistência aos envolvidos no acidente, e às autoridades policiais a fim de colaborar na elucidação dos fatos.

A Concessionária também disse que, desde janeiro de 2022, quando assumiu a gestão dos terminais e estações de BRT,  já foram instaladas mais de 350 placas informando a proibição de trânsito de pedestres nas vias de circulação dos ônibus e o limite máximo de velocidade dentro dos TI’s. Especificamente no Terminal Integrado de Camaragibe, foram instaladas 5 placas informando a proibição do trânsito de pedestres, e outras 5 placas informando o limite de velocidade, totalizando 10 placas de orientação aos usuários e motoristas de ônibus.

Em 2023, segundo a Nova Mobi Pernambuco, também foram implantadas telas de contenção e barreiras de contenção metálicas nas bordas das plataformas para evitar a travessia irregular e diminuir o número de passageiros nas vias exclusivas de veículos.

A reportagem da CBN esteve no Terminal Integrado de Camaragibe e conseguiu identificar as placas de sinalização de velocidade (20km/h) e de proibição do trânsito de pedestres. No entanto, também foi possível identificar a ausência de profissionais instruindo a população e indicando as faixas onde a passagem é permitida. As telas de contenção entre as plataformas também foram observadas, contudo, elas não impedem completamente que os passageiros transitem de uma plataforma para outra com segurança. 

Ouça a matéria do repórter Lucas Arruda no 'Play' acima.