Violência: Grande Recife registra morte de 12 pessoas em situação de rua em 2025

De janeiro a junho de 2025, 12 pessoas em situação de rua foram baleadas e mortas no Grande Recife. O dado é do Instituto Fogo Cruzado, que monitora a situação da violência nas ruas da capital e das cidades da Região Metropolitana desde 2019. Apesar de o ano estar apenas na metade, o indicador de mortos é 166% superior ao do ano passado, quando duas pessoas em situação de rua foram mortas. 

O levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado revela outro padrão: a maioira das vítimas era homem e negra, e a maior parte dos casos aconteceu na capital pernambucana. Uma dessas vítimas era conhecida como Chico, de 36 anos, que foi assassinado no último dia 5 de junho em frente ao Mercado da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife.

Confira os números:

2019 (01/01 a 10/06) – 5 pessoas baleadas: 3 mortas e 2 feridas

2020 (01/01 a 10/06) – sem baleados em situação de rua

2021 (01/01 a 10/06) – 1 pessoa morta

2022 (01/01 a 10/06) – sem baleados em situação de rua

2023 (01/01 a 10/06) – 2 pessoas mortas

2024 (01/01 a 10/06) – 4 pessoas baleadas: 2 mortas e 2 feridas

2025 (01/01 a 10/06) – 12 pessoas mortas

O que diz o Governo de Pernambuco

Procurada pela reportagem da CBN Recife, a Secretaria de Assistência Social, Combate à Fome e Políticas sobre Drogas de Pernambuco disse que lamenta profundamente os episódios de violência registrados contra pessoas em situação de rua na Região Metropolitana do Recife. A pasta também declarou que se solidariza com as vítimas e suas famílias e reforça seu compromisso permanente com a proteção, promoção de direitos e cuidado com essa população.

Do ponto de vista prático, a gestão estadual aponta avanços por meio de políticas de cofinanciamento específicas para a população em situação de rua. Desde 2024, por meio do Fundo Estadual de Assistência Social, o governo deu início ao custeio e implantação de Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP) e do Serviço Especializado em Abordagem Social, com o objetivo de qualificar o atendimento e construir, de forma humanizada e voluntária, alternativas para a superação das ruas.

Neste ano, serão criados mais sete Centros POPs e 31 novos serviços de abordagem social. Até o momento, foram cofinanciados 26 serviços de abordagem social, distribuídos em 15 municípios, com recursos pactuados no valor de R$ 792 mil. E 12 municípios dispõem de 14 Centros POPs.

A Secretaria também destaca a atuação do Comitê Intersetorial de Políticas Públicas para a População em Situação de Rua, espaço permanente de debate, pactuação e monitoramento de ações por representantes de diferentes secretarias estaduais, órgãos públicos, movimentos sociais e entidades da sociedade civil.

O que diz a Prefeitura do Recife

No Recife, onde aconteceu a maioria dos assassinatos, a gestão municipal diz que mantém uma rede de proteção socioassistencial com ações voltadas à população em situação de vulnerabilidade. Segundo estimativa do Comitê Estadual da População em Situação de Rua, cerca de 2.500 pessoas vivem nessa condição na capital.

Por meio do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), equipes compostas por educadores sociais atuam diariamente, nos três turnos, em todos os territórios da cidade. O trabalho inclui a identificação e o acompanhamento de casos como situação de rua, trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, entre outras violações de direitos. O objetivo principal é estabelecer vínculos que facilitem a transição das pessoas para fora das ruas, possibilitando o acesso à rede de serviços e benefícios assistenciais.

As abordagens são realizadas de forma contínua, mas a saída das pessoas das ruas não se dá de forma compulsória. Ou seja, ainda que uma pessoa permaneça por dias no mesmo local, isso não significa ausência de atendimento. Muitas vezes, ela já foi abordada, orientada e segue acompanhada pelas equipes, sendo respeitada a autonomia. 

A Prefeitura ainda conta com os Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centros Pop). Esses centros são espaços onde pessoas em situação de rua podem tomar banho, guardar pertences pessoais, lavar roupas, descansar, beber água e se alimentar. 

Os Centros têm como objetivo garantir serviços, atendimentos psicossociais e atividades voltadas para o desenvolvimento de sociabilidades, visando o fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que possibilitem a reconstrução de novos projetos de vida.

Por meio da Secretaria de Saúde, o Programa Consultório na Rua, implantado em 2014, facilita o acesso dessa população à atenção integral à saúde, por meio de equipes multidisciplinares formadas por assistente social, enfermeiro, psicólogo, agente social, técnico de enfermagem e médico. Atualmente, 1.582 usuários estão cadastrados pelas equipes do programa. Em 2024, foram realizados mais de 3.400 atendimentos individuais, e em 2025, até o momento, já foram contabilizados 2.131 atendimentos.